Página:Os Maias - Volume 2.pdf/461

Wikisource, a biblioteca livre
OS MAIAS
451

quarto de Carlos. E ficou pasmado quando o Baptista — tristonho desde a vespera, farejando desgosto — lhe disse que Carlos fôra para a Tapada, muito cedo, a cavallo...

— Ora essa!... E não deixou ordens nenhumas, não fallou em ir para Santa Olavia?...

Baptista olhou Ega, espantado:

— Para Santa Olavia!... Não senhor, não fallou em semelhante coisa. Mas deixou uma carta para v. exc.ª vêr. Creio que é do snr. marquez. E diz que lá apparecia depois, ás seis... Acho que é jantar.

N’um bilhete de visita, o marquez, com effeito, lembrava que esse dia era «o seu fausto natalicio», e esperava Carlos e o Ega ás seis, para lhe ajudarem a comer a gallinha de dieta.

— Bem, lá nos encontraremos, murmurou Ega, descendo para o jardim.

Aquillo parecia-lhe extraordinario! Carlos passeando a cavallo, Carlos jantando com o marquez, como se nada houvesse perturbado a sua vida facil de rapaz feliz!... Estava agora certo de que elle na vespera fôra á rua de S. Francisco. Justos céos! Que se teria lá passado? Subiu, ouvindo a sineta do almoço. O escudeiro annunciou-lhe que o snr. Affonso da Maia tomára uma chavena de chá no quarto e ainda estava recolhido. Todos sumidos! Pela primeira vez no Ramalhete Ega almoçou solitariamente na larga mesa, lendo a Gazeta Illustrada.