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Monteiro Lobato

— Não ha duvida, disse ao meu companheiro, temol-a e boa! O remedio é acoutarmo-nos quanto antes ahi n’algum socavão, que agua vem, de rachar.

Circumvaguei os olhos em torno. Morraria aspera a perder-se de vista, sem uma casota de palha a acenar-nos com o “corre aqui” .

— E agora? exclamou desnorteado o Jonas, marinheiro de primeira viagem que tudo fiava da minha experiencia.

— Agora é galopar. Atrás deste espigão fica uma fazenda em ruinas, de má nota, mas unico oasis possivel nesta emergencia. Casa do Inferno, chama-lhe o povo.

— Pois tóca para o inferno já que o céo nos ameaça, retorquiu Jonas dando de esporas e seguindo-me por um atalho.

— Tens coragem? gritei-lhe. Olha que é casa mal assombrada!...

— Bemvinda seja. Annos ha que procuro uma sem topar cousa que preste. Correntes que se arrastam pela calada da noite?

— Dum preto velho que foi escravo do defunto capitão Aleixo, fundador da fazenda, ouvi coisas de arrepiar!...

Jonas, a creatura mais gabola deste mundo, não perdeu vasa duma pacholice:

— D’arrepiar a ti, que a mim, bem o sabes, só me arrepiam correntes de ar...

— Acredito, mas tóca, que o diluvio não tarda. O céo ennegrecera por igual. Um relampago