Página:Os descobrimentos portuguezes e os de Colombo.djvu/189

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andante, a cruzadas, e a romances em acção, encontrava em D. João II um antagonismo ferrenho. E percebe-se que assim fosse, desde o momento que fôra tudo isso que estivera quasi arruinando Portugal, que fôra tudo isso que fizera a desgraça de D. Affonso V e que era a esses bellos sonhos que D. João II devia o ter ficado, como costumava dizer, por morte de seu pae, rei das estradas de seu reino.

Ainda havia um facto que não podia produzir boa impressão em D. João II. Arrastado pelo ardor das suas convicções, como acontecia com Toscanelli, Colombo dizia conhecer a distancia exacta a que ficava Cipango de Portugal. Ora D. João II era um espirito bastante positivo para perceber o que havia de absurdo em semelhante calculo, e a segurança manifestada por Colombo mais ainda o punha em guarda contra os seus projectos.

Hoje que os factos mostram como Colombo tinha razão, todos imaginam que só o espirito de rotina podia fazer com que elles fossem regeitados. E comtudo, examinando-os bem comprehende-se que espiritos positivos não acceitassem. Colombo suppunha por exemplo que a relação entre a terra e o mar era de 7 para 1, quando a verdade é que essa relação é de 1 para 2,7, ou mais exactamente de 29 para 82.[1] Quaes eram as razões em que elle se baseava

  1. Humboldt, Histoire de la géographie, etc., tom. II. Nota H, pag. 369.