principiavam logo ao sul de Marrocos, as indicações dos estranhos povos que as habitavam. E, quando tão arraigada se achava esta convicção no animo de todos, quando no seculo XIV se discutiam com ardor as doutrinas capitaes que expozemos ácerca da zona torrida, a ponto de Pedro d’Abano escrever, com o titulo de Conciliator, um livro destinado, como indica o seu titulo, a conciliar essas doutrinas, quando as viagens de Marco Polo excitavam immensa curiosidade e muita incredulidade tambem, tão estranhas coisas contava — apesar de nenhuma d’ellas destruir afinal de contas os pontos capitaes da sciencia do seu tempo — era possivel imaginar-se que navegadores quaesquer fizessem viagens, que destruissem completamente as noções essenciaes da geographia essencialmente admittida, viagens em que penetrassem na zona torrida não só sem perigo, mas tambem sem encontrar nas regiões circumjacentes nem povos monstruosos, nem animaes estranhos, nem maravilhosas plantas, e que nem esse facto surprehendesse capitães e marinheiros, nem excitasse a curiosidade dos reis, nem dos sabios monges, nem dos que escreviam os poemas geographicos, nem dos que compunham as encyclopedias, nem dos que desenhavam os mappas, nem dos aventureiros dos outros paizes, como succedeu com as viagens dos Portuguezes, que deram logo brado em toda a Europa, como não podia deixar de succeder quando se désse
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