da casa tem uma só porta e janellas. A porta é murada e as duas janellas de baixo tambem. No primeiro andar, e é isso que espanta logo ao principio, ha duas janellas abertas; mas as janellas tapadas são menos assustadoras que as janellas abertas. Por estarem abertas, apparecem negras em pleno dia. Não tem vidros nem caixilhos. Abrem para as trevas do interior. Dissera-se umas orbitas vasias de olhos arrancados. Nada ha naquella casa. Vê-se pelas janellas abertas o descalabro de dentro. Nem retabulos, nem entalhos de madeira, pedra núa. Parece um sepulchro com janellas para deixar que os espectros olhem para fóra. As chuvas alluem os alicerces do lado do mar. Algumas ortigas agitadas pelo vento beijam a barra das paredes. No horisonte, nenhuma habitação humana. Aquella casa é uma cousa vasia e silenciosa. Mas quem pára e põe o ouvido á parede ouve confusamente um bater de azas assustadas. Por cima da porta tapada, na pedra que faz a architrava, estão gravadas estas letras; ELM—PBILG, e esta data 1780.
De noite o luar lugubre penetra na casa.
Todo o mar está em roda da casa. A situação é magnifica, e por consequencia, sinistra. A belleza do lugar torna-se um enigma. Por que motivo aquella casa não é habitada por nenhuma familia humana? O lugar é bonito, a casa é boa. Donde procede esse abandono? Ás perguntas da razão ajuntam-se as perguntas da superstição. O campo é cultivavel, por que motivo está inculto? Não ha dono. A porta murada. Que tem pois este lugar? porque foge o homem? que se faz aqui? Se não ha nada, porque