madeira, e a cada instante tirava da parede, ou do tecto uma ripa para aquecer a caldeira do ouro. No tabique acima do grabato do trapeiro, viam-se em duas columnas algarismos feitos com greda, escriptos pelo trapeiro todas as semanas, uma columna de tres e uma columna de cinco, conforme o cestario de grão custasse tres liards ou cinco centimos. A caldeira do chimico era uma velha bomba quebrada, promovida por elle ao cargo de caldeira, e que lhe servia para combinar os ingredientes. A transmutação absorvia-a. Algumas vezes fallava nisso aos maltrapilhos do pateo, que deitavam a rir. Dizia elle: aquella gente está cheia de preconceitos. Estava resolvido a não morrer sem atirar a pedra phylosophal ás vidraças da sciencia. O forno com que trabalhava comia muita lenha. Já o patamar da escada tinha desapparecido. Ia-se toda a casa paulatinamente. Dizia-lhe a hoteleira: Neste andar só me fica o casco. O chimico abrandava-lhe a colera fazendo-lhe versos.
Tal era a Jacressarde.
O criado da casa era um menino, talvez anão, contando doze annos ou sessenta de idade, cheio de borbulhas, e trazendo sempre uma vassoura na mão.
Os frequentadores entravam pela porta do páteo; o publico entrava pela porta da loja.
O que era a loja?
A alta parede que dava para a rua tinha á direita da entrada do páteo uma abertura feita em esquadria, que era a um tempo porta e janella, tendo postigo e caixilhos; o postigo era o unico da casa que tinha eixos e fechaduras, o caixilho era o unico que tinha vidros. Por traz da janella que abria sobre a rua havia um