Página:Os trabalhadores do mar.djvu/293

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para a sua honestidade com o ar com que a serpente contempla a pelle que despio.

Toda a gente acreditou naquella honestidade, elle proprio acreditou um bocadinho nella.

Deu segunda gargalhada.

Iam pensar que elle estava morto, e estava vivo. Pensavam que estava perdido, e estava salvo. Que boa caçoada á tolice universal!

E nessa tolice universal contava-se Rantaine. Clubin pensava em Rantaine com um desdem sem limites. Desdem da fuinha para com o tigre. Tinha conseguido o que falhára a Rantaine. Rantaine retirara-se enfiado, e Clubin triumphante. Tomou o lugar de Rantaine no leito da sua má acção, e foi elle quem teve a boa fortuna.

Quanto ao fucturo, Clubin não tinha plano. Possuia os bilhetes do banco na boceta de ferro atada á cintura; bastava-lhe esta certeza. Mudaria de nome. Ha paizes onde sessenta mil francos valem seiscentos mil. Não seria má solução ir para um desses lugares viver honestamente com o dinheiro apanhado ao ladrão Rantaine. Especular, entrar em um grande negocio, engrossar o capital, tornar-se seriamente millionario, também não era máo.

Por exemplo, em Costa Rica, como era o começo do grande commercio do café, podia ganhar toneis de ouro. Veria isso.

Demais, pouco importava. Clubin tinha tempo de pensar nessas cousas. O mais difficil estava feito. Despojar Rantaine, desaparecer com a Durande era o mais importante. Estava feito. O resto era simples. Não havia obstaculo possivel. Nada de temer. Não