Saltar para o conteúdo

Página:Os trabalhadores do mar.djvu/362

Wikisource, a biblioteca livre
— 122 —

Cobria a rocha em certos pontos uma lepra de conchas corroidas.

Em outros pontos, nos angulos reentrantes, onde se accumulára uma arêa fina, ondeada na superficie antes pelo vento que pela vaga, havia tufas de cardo azul.

Nos redentes pouco batidos pela espuma, reconhecia-se as pequenas covas furadas pelos ursos do mar. Este urso-concha, que anda, bola viva, rolando-se nas pontas, e cuja couraça compõe-se de mais de dez mil peças artisticamente ajustadas e soldadas, o urso marinho, cuja boca se chama, ninguem sabe porque, lanterna de Aristoteles, cava o granito com os cinco dentes que tem e aloja-se nos buracos. Nessas alveolas é que os pescadores de fructas do mar dão com elle. Cortam-n’o em quatro partes e comem-n’o crú como ostra. Alguns metem o pão naquella carne mólle. Dahi o nome de ovo do mar.

As cumiadas dos bancos descobertas pela maré que vasava iam ter mesmo debaixo do rochedo Homem a uma especie de angra murada quasi por todos os lados. Havia alli evidentemente um ancouradouro possivel. Gilliatt observou a angra a forma de uma ferradura, e abria-se de um ao vento Este, que é o menos máo daquellas paragens. O vento alli estava preso e quasi adormecido. Era segura aquella bahiazinha. Nem Gilliatt tinha muito onde escolher.

Se Gilliatt quizesse aproveitar a maré vasante devia apressar-se.

O tempo continuava a ser magnifico. Estava de humor aquelle insolente mar.