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Página:Os trabalhadores do mar.djvu/406

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não sei quê, aliás de espirito, misturava-se á estupidez massiça da pedra. Que artista não é o abysmo! Tal pedaço de parede, cortado em quadro e cheio de altos e baixos, representando attitudes, figurava um vago baixo-relevo; ante essa esculptura, em que havia um tanto de nuvem, podia-se sonhar com Prometteo esboçando para Miguel Angelo. Parecia que com alguns toques de cinzel o genio poderia acabar o que o gigante começara. Em outros lugares a rocha era embutida como um broquel sarraceno ou traçada como uma florentina. Tinham almofadas que pareciam bronze de Corintho, arabescos como uma porta de mesquita; como uma pedra runica tinha signaes de unha obscuros e improvaveis. Plantas com ramos torcidos em forma do verruma, cruzando-se no dourado do musgo, cobriam-na filagranas. Era um antro e uma alhambra. Era o encontro da selvageria e da ourivesaria na augusta e disforme architectura do acaso.

O magnifico bolor do mar avelludava os angulos do granito. As pedras estavam adornadas de lianas grandi-flôres, tão destras que não cahiam, e pareciam intelligentes tão bem adornavam ellas.

Parietarias com estranhos ramalhetes mostravam os seus tuffos a proposito e com gosto. Havia alli a casquilhice possivel numa caverna. A sorprehendente luz edenica que vinha debaixo d’agua, a um tempo penumbra marinha e radiação paradisiaca, esfumava todos os lineamentos em uma especie de diffusão visionaria. Cada vaga era um prisma. O contorno das cousas debaixo desses ondeamentos iriados tinha o chrosmatismo das lentes d’optica demasiado