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Página:Os trabalhadores do mar.djvu/429

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duas pedras abrasadas ao fogo, como os selvagens das ilhas Feroe.

Declarou-se entretanto um pouco de equinoxio; veio a chuva; mas chuva hostil. Nem ondas, nem aguaceiros, mas longos choviscos, finos, gelados, que, atravessavam-lhe a roupa até á pelle, e a pelle até os ossos. Era chuva que dava pouco de beber e molhava muito.

Avara de auxilio, prodiga de miseria, tal era aquella chuva, indigna do céo. Gilliatt apanhou-a toda, durante uma semana, de noite e de dia. Era uma má acção lá de cima.

De noite, no seu buraco do rochedo, só dormia por cançasso. Os grandes mosquitos do mar iam morde-lo. Acordava coberto de pustulas.

Tinha febre, que o sustentava; a febre é um amparo, que mata. Mastigava, por instincto, o musgo ou chupava as folhas de cochlearia selvagem, magras producções das fendas seccas do rochedo. Mas occupava-se bem pouco com o soffrimento. Não tinha tempo de distrahir-se do trabalho para cuidar de si. A machina da Durande estava de saude. Era o que bastava.

A cada momento, para as necessidades do trabalho, Gilliatt atirava-se ao mar, depois tomava pé. Entrava na agua e sahia, como se passa de um quarto a outro.

As roupas já lhe não seccavam. Estavam embebidas da agua da chuva que não parava, e da agua do mar que não secca nunca. Gilliatt vivia molhado.

Viver molhado é um habito que se adquire. Os pobres grupos irlandezes, velhos, mãis, raparigas