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Página:Os trabalhadores do mar.djvu/46

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Não acreditava em feiticeiros. Mofava dos que acreditavam em almas do outro mundo.

Tinha uma canôa, pescava nas horas de descanço para divertir-se, e nunca vio cousa alguma extraordinaria, a não ser, em certa noite de luar, um vulto branco de mulher, que pulava na agua, e ainda assim não estava muito certo. Moutonne Gahy, feiticeira de Torteval, dera-lhe um saquinho para atar debaixo da gravata, afim de afugentar os espiritos; Landoys zombava do sacco, e não sabia o que havia dentro; mas sempre andava com elle, e sentia-se assim mais seguro.

Algumas pessoas audazes, acompanhando o Sr. Landoys, arriscaram-se a reconhecer em Gilliatt certas circumstancias attenuantes, algumas apparencias de qualidades, a sobriedade, a abstinencia do gin e do tabaco, e chegavam ás vezes a fazer delle este bello elogio. Não bebe, não fuma, nem masca.

Mas a sobriedade é uma qualidade, quando o individuo possue outras.

Gilliatt inspirava a aversão publica.

Fosse o que fosse, como marcou, Gilliatt podia prestar serviços. Em uma sexta-feira maior, á meia noite, dia e hora usados para esses curativos, todos os escrophulosos da ilha, por inspiração, ou combinação, foram em massa á casa mal assombrada, e com as mãos postas, pediram a Gilliatt que os curasse. Gilliatt recusou. Reconheceu-se nisto a sua perversidade.