O mar estava manso e soberbo; merecia todos os madrigaes que lhe dirigem os burguezes quando estão contentes com elle, — um espelho, — um mar de rosas, — um tanque, — um mar de leite. — O azul profundo do céo correspondia ao verde profundo do oceano. Aquella saphira e aquella esmeralda podiam admirar-se ambas. Não tinham de que exprobrar-se. Nenhuma nuvem em cima, nenhuma espuma em baixo. No meio desse esplendor subia magnificamente o sol de Abril. Era impossivel ver mais bello dia.
No extremo horisonte uma fila negra de aves de arribação atravessava o céo. Iam depressa. Dirigiam-se para a terra. Parecia uma fuga.
Gilliatt continuou a levantar o quebra-mar.
Levantou-o o mais que pôde, tão alto como lhe permittio a curvatura dos rochedos.
Ao meio-dia o sol pareceu-lhe mais quente do que devia estar. Meio-dia é a hora critica do dia. Gilliatt, de pé na robusta clara-boia que acabava de construir, entrou a contemplar a extensão.
O mar estava mais que tranquillo, estava estagnado. Não se via uma vela. O céo estava limpido; somente o azul tornara-se mais branco. Era um branco singular. No horisonte, a oeste, havia uma manchasinha de apparencia ruim. Essa mancha estava immovel, mas crescia. Junto dos cachopos o mar palpitava brandamente.
Gilliatt fizera bem em construir o quebra-mar.
Approximava-se uma tempestade.
O abysmo resolvera dar batalha.