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Página:Os trabalhadores do mar.djvu/480

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cirrus; se o sol se põe, é a hora de examinar a côr da tarde; se é de noite e ha luar, é a hora de estudar as aureolas planetarias.

Nessa hora, o capitão ou chefe de esquadra que tem a fortuna de possuir um desses vidros de tempestade cujo inventor não se conhece, observa o vidro com o microscopio e toma as suas precauções contra o vento do sul, se a mistura tem aspecto de assucar fundido; e contra o vento do norte, se a mistura se esfolha em crystallisações semelhantes aos tuffos de hervas ou aos bosques de pinheiro. Nessa hora, depois de ter consultado o gnomon mysterioso gravado pelos romanos, ou pelos demonios, n’uma dessas estreitas pedras enigmaticas que na Bretanha se chama menhir, e na Irlanda cruach, o pobre pescador irlandez ou bretão retira a sua barça do mar.

Persiste entretanto a serenidade do céo e do oceano. A manhã rompe radiosa e a aurora sorri, o que enchia de religioso horror os antigos poetas e os antigos adevinhos, assustados de que se podesse crer na deslealdade do sol. Solem quis dicere falsum audeat.

A sombria visão do possivel latente é interceptada ao homem pela opacidade fatal das cousas. O mais temivel e o mais perfido aspecto é a mascara do abysmo.

Diz-se: anguis in herba; devia dizer-se: borrasca na calma.

Assim se passam horas, e ás vezes dias. Os pilotos assestam os seus oculos. O rosto dos velhos marinheiros tem um ar de severidade que se prende á colera secreta da expectação.

De subito ouve-se um grande murmurio confuso. Ha uma especie de dialogo mysterioso no ar.