Página:Os trabalhadores do mar.djvu/485

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Os espaços tremulos supportam os seus ataques. É inesprimivel o que se passa nesses grandes abandonos. Mistura-se á sombra um elemento equestre. O ar faz um rumor de floresta. Não se vê nada, mas ouve-se um ruido de cavallos. É meio dia, de subito anoitece; passa um tornado; é meia noite, de repente esclarece, accende-se o effluvio polar. Alternam em sentido inverso os turbilhões, especie de dansa hedionda, tripudeo dos flagellos sobre o elemento. Quebra-se pelo meio uma pesada nuvem, e os pedaços vão precipitar-se no mar. Outras nuvens purpureadas, illuminam e roncam, depois escurecem lugubremente; a nuvem esvasiada de raio, é carvão apagado. Saccos de chuva rompem-se em bruma. Fornalha em que chove, onda que vomita luz. As alvuras do mar debaixo do aguaceiro illuminam sorprehendentes quadros; desfiguram-se espessuras onde se reproduzem as semelhanças. Monstruoso umbigo vai rompendo as nuvens. Volteam os vapores, saracoteam as vagas; rolam embriagadas as nayades; a perder de vista, o mar massiço e mole move-se sempre sem jamais deslocar-se; tudo é livido; desesperados gritos sobem desse palor.

No fundo da obscuridade inaccessivel tremem grandes germens de sombra. De quando em quando ha paroxismo. O rumor torna-se tumulto, do mesmo modo que a vaga se torna marulho. O horisonte, superposição confusa de vagas, oscillação sem fim, murmura continuamente; alli arrebentam extranhamente uns arremeços de fracaço; parece-se ouvir as hydras espirrando; sopram palitos frios, seguem-se halitos quentes. A trepidação