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Página:Os trabalhadores do mar.djvu/503

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Tinha o barrete no bolso, tirou-o e pol-o na cabeça. Tirou do buraco, onde por tanto tempo dormira, o fato de reserva, e vestio tudo, grevas e capotão, como um cavalleiro veste a armadura para entrar em combate. Sabem que perdera os sapatos, mas os pés descalços tinham-se endurecido nos rochedos.

Preparado o vestuario de guerra, contemplou elle o quebra-mar, empunhou vivamente a corda de nós, desceu da platafórma das Douvres, tomou pé nas rochas debaixo, e correu ao deposito. Instantes depois trabalhava. A vasta nuvem muda pôde ouvir-lhe os sons do martello. Que fazia Gilliatt? Com o resto dos prégos, cordas e vigas, construia na abertura de leste uma segunda porta de dez a doze pés por traz da primeira.

Profundo era o silencio. Os talos de herva nas fendas do escolho nem mesmo tremiam.

Subitamente o sol desappareceu. Gilliatt levantou a cabeça.

A nuvem ascendente acabava de attingir o sol. Foi como que uma extinção da luz substituida por uma reverberação mesclada e pallida.

A muralha de nuvem mudara de aspecto. Já não tinha unidade. Encrespara-se horisontalmenle tocando o zenith, pendendo em todo o resto do céo. Tinha agora divisões. A formação da tempestade desenhava-se como em uma secção dividida. Distinguia-se as camadas da chuva e os jazigos do granito. Não havia relampago, mas um horrivel clarão espesso; porque a idéa do horror póde ligar-se á idéa da luz. Ouvia-se o vago respirar da tempestade.