Página:Os trabalhadores do mar.djvu/519

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Aquelle baluarte vencido agonisava heroicamente. O mar quebrou-o, elle quebrava o mar. Derrubado ainda ficava um pouco efficaz. A rocha que senda de tapagem, obstaculo sem recurso possivel, retinha-o pelo pé. A garganta naquelle ponto, era muito estreita; a tempestade victoriosa tinha empurrado, misturado e empilhado todo o quebra-mar naquelle lugar angustioso; a violencia da impulsão, misturando a massa, e mettendo as fracturas umas nas outras, fez daquella demolição uma cousa solida. Estava destruido e inabalavel. Só algumas peças de páo ficaram destacadas. Dispersou-as a vaga. Uma passou no ar, perto de Gilliatt. Elle sentio o ar agitado pela taboa na fronte.

Mas algumas vagas, essas grossas vagas que nos temporaes voltam sempre, com uma periodicidade imperturbavel, saltavam por cima das ruinas do quebra-mar. Cahiam na garganta, e a despeito dos cotovellos que a viella tinha, chegavam a levantar a agua. A onda do estreito começava a agitar-se de um modo feio. Accentuava-se o beijo obscuro das vagas nas rochas.

Como impedir agora que essa agitação se propagasse até á pança?

Não precisava muito tempo para que toda a agua interior ficasse tempestuosa, e com algumas ondas, a pança seria estripada, e a machina a pique.

Gilliatt scismava tremulo.

Mas não se desconcertou. Para aquella alma havia derrota possivel.