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Página:Os trabalhadores do mar.djvu/533

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já observára de longe. A que ficava mais perto delle estava a secco e era facil de se lhe chegar.

Mais perto ainda que essa descobrio elle, ao alcance da mão, uma fenda horisontal no granito. Provavelmente estava alli o caranguejo. Metteu a mão o mais que pôde, e procurou ás apalpadellas naquelle buraco de trevas.

De repente sentio que lhe agarravam no braço.

O que elle experimentou nesse momento foi o horror indescriptivel.

Uma cousa que era delgada, aspera, chata, gelada, pegajosa e viva torcia-se na sombra á roda de seu braço nú, e subia-lhe para o peito. Era a pressão de uma corrêa, e o impulso de uma verruma. Em menos de um segundo, uma especie de espiral tinha-lhe invadido o punho e o cotovello e tocava-lhe o hombro. A ponta mettia-se-lhe no sovaco.

Gilliatt atirou-se para traz, e mal pôde fazel-o. Estava como que pregado. Com a mão esquerda que ficava livre pegou na faca que tinha entre os dentes, e com essa mão, que segurava a faca, apoiou-se no rochedo com um esforço desesperado para saccar o braço. Só conseguio inquietar a ligadura, que se apertou mais. Era flexivel como o couro, solida como o aço, fria como a noite.

Outra corrêa, estreita e pontuda, sahio do buraco da rocha. Era uma especie de lingua sahindo de uma goela. Lambeu medonhamente o corpo nú de Gilliatt, e de repente, esticando-se, desmedida e fina, applicou-se-lhe na pelle e enrolou-se no corpo. Ao mesmo tempo um soffrimento inaudito, sem comparação neste mundo, levantava os musculos de Gilliatt.