Lugubre ironia final. Naquelle escolho d’onde Gilliatt contava sahir triumphante, Clubin morto olhára rindo para elle.
Tinha razão o riso do espectro. Gilliatt via-se perdido. Via-se tão morto como Clubin.
O inverno, a fome, a fadiga, o desapparelhar do casco, o transporte da machina, o equinoxio, o vento, o trovão, a pieuvre, tudo isso nada era ao pé do arrombamento da pança. Podia-se ter, e Gilliatt os teve, contra o frio, o fogo; contra a fome, as conchas; contra a sêde, a chuva; contra as difficuldades, a industria e a energia; contra a maré e a tempestade, o quebra-mar; contra a pieuvre, a faca. Contra o arrombamento, nada.
O furacão deixava-lhe aquelle adeus sinistro. Ultima repetição, perfida estocada, ataque sorrateiro do vencido ao vencedor. A tempestade fugitiva lançava-lhe aquella flecha. A derrota olhava para traz e feria. Era o coup de jarnac do abysmo.
Combate-se a tempestade; mas como combater um esgoto?
Se o batoque cedesse nada podia impedir que a pança fosse a pique. Era a ligadura da arteria que se rompe. E apenas fosse ao fundo d’agua,com a machina dentro, não havia meio de arranca-la. O magnanimo exforço de dous mezes titanicos acabava por um anniquilamento. Recomeçar era impossivel. Gilliatt já não tinha nem forja, nem materiaes. Talvez tivesse elle de ver, ao romper do dia, mergulhar-se lentamente e irremediavelmente toda a sua obra no golphão.
Cousa assustadora é sentir debaixo de si a força sombria.