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Página:Os trabalhadores do mar.djvu/67

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alcançou a um tempo o rheumatismo e a abastança. Estes dous productos do trabalho acompanham-se voluntariamente. Quem chega a ser rico, fica inutilisado. É a corôa da vida.

Diz-se então: vamos gozar agora.

Nas ilhas como Guernesey, a população é composta de homens que passaram a vida a andar á roda do campo, e de homens que passaram a vida a viajar á roda do mundo. São duas especies de lavradores, uns da terra, outros do mar. Mess Lethierry era dos ultimos. Conhecia, porém, a terra. Tinha trabalhado muito. Viajara no continente. Foi algum tempo carpinteiro de navio em Rochefort, depois em Cette.

Fallámos nas viagens á roda do mundo; Mess Lethierry viajou a França toda como carpinteiro. Trabalhou nos apparelhos para esgoto das salinas de Franche-Comté. Aquelle honrado homem teve uma vida de aventureiro. Em França aprendeu a ler, a pensar, a querer. Fez tudo, e de quanto fez extrahio a probidade. O fundo da sua natureza era o marinheiro. A agua lhe pertencia. Os peixes estão em minha casa, dizia elle. Em summa toda a sua existencia, com excepção de dous ou tres annos, foi consagrada ao oceano; atirada á agua, dizia elle. Navegara nos grandes mares, no Atlantico e no Pacifico; mas preferia a Mancha. Aquelle é que é rude, exclamava elle com amor. Nasceu alli, alli queria morrer. Depois de ter feito duas ou tres vezes a volta do mundo, e sabendo o que devia escolher, voltou a Guernesey, e não se mecheu dalli. As suas viagens, então, eram Granville e Saint-Malo.

Mess Lethierry era guernesiano, isto é, normando, inglez, francez. Tinha essa patria quadrupla, immersa e como que afogada na sua grande patria, o oceano. Durante a sua vida, e em toda a parte, conservou os costumes de pescador normando.

Isso, porém, não tolhia que elle abrisse de quando em quando um alfarrabio, gostasse de ler um livro, de saber os nomes dos philosophos e poetas, e taramellar em vasconço um poucochinho de cada lingua.