Página:Os trabalhadores do mar.djvu/672

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como o vento vinha do lado opposto, no instante rapido em que o sloop resvalou a algumas toezas da cadeira Gild’-Holm’Ur, Gilliatt ouvia a voz terna e delicada de Deruchette que dizia:

— Olha! Parece que ha um homem no rochedo.

A apparição passou.

O Cashmere deixou a ponta do promontorio atraz de si, e mergulhou-se no franzido profundo das vagas. Em menos de um quarto de hora, mastros e velas assemelhavam-se a uma especie de obelisco branco diminuindo no horisonte. Gilliatt tinha agua até os joelhos.

Via o sloop affastar-se.

A brisa refrescava ao longe. Gilliatt pôde ver o Cashmere içar os cutellos baixos para aproveitar o augmento do vento. O Cashmere já estava fora das aguas de Guernesey. Gilliat não tirava os olhos do navio.

A agua chegava-lhe á cintura.

A maré levantava-se. O tempo corria.

As cotovias e os corvos marinhos esvoaçavam inquietos em roda delle. Dissera-se que procuravam advertil-o. Talvez houvesse naquelles bandos alguma gaivota ainda das Douvres que o reconhecia.

Decorreu uma hora.

O vento do largo não soprava no porto, mas a diminuição do Cashmere era rapida. O sloop, segundo as apparencias, ia a toda a força. Já estava quasi na altura de Casquets.

Não havia espuma á roda do rochedo Gild-Holm’Ur, nenhuma vaga batia no granito. A agua inchava vagarosamente. Já estava quasi na altura dos hombros de Gilliatt.

Decorreu outra hora.