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OUTRAS RELIQUIAS

Finalmente, Lisboa (Anais, tom. III, pág. 323) traz uma carta da Câmara ao prelado Almada, com a data de 1659, que é a mesma da ação do poema, e escrita anteriormente ao episódio da devassa, a qual carta começa assim: "Neste Senado se fez por parte do povo..."

Usava pois a Câmara, ainda que não legalmente, do título que lhe dou.

(2)

E tu cidade minha, airoza e moça,
Que ufana miras o garbozo gesto.

Mais de uma vez tenho lido e ouvido que a cidade do Rio de Janeiro nada tem de airosa e garbosa, ao menos na parte primitiva, a muitos respeitos inferior aos arrabaldes.

Não me oponho a esse juízo; mas eu não conheço as belas cidades estrangeiras, e depois, falo da minha terra natal, e a terra natal, mesmo que seja uma aldeia, é sempre o paraíso do mundo. Em compensação do que não lhe deram ainda os homens, possui ela o muito que lhe deu a natureza, a sua magnífica baía, as montanhas e colinas, que a cercam, e o seu céu de esplêndido azul. Acresce que nesta dedicatória comparo eu o que é hoje ao que era a cidade em 1569, diferença, na verdade, enorme.

(3)

Da corôa en nome
Governava Alvarenga, incorruptível
No serviço do rei, astuto e manso,
Alcaide-mór e protetor das armas...

Tomé Correia de Alvarenga, alcaide-mor do Rio de Janeiro e natural desta cidade, exercia interinamente o cargo de governador por não ter ainda chegado da Bahia o governador efetivo Lourenço de Brito Correia, como tudo fora ordenado na carta régia de 27 de março de 1657.

(4)

No mais amigo deste povo infante,
Em cujo seio plácido vivia