Página:Outras Reliquias (Machado de Assis, 1910).djvu/39

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provar o erro, concordou em aceitar um palpite, comprou no gato, e ganhou.

— Então? perguntaram-lhe os amigos.

— Nem sempre se há de perder, disse este.

— Acaba-se ganhando sempre, acudiu um; a questão é tenacidade, não afrouxar nunca.

Apesar disso, Camilo deixou-se ir com os seus cálculos. Quando muito, cedia a certas indicações que pareciam vir do céu, como um dito de criança de rua: “Mamãe, por que é que a senhora não joga hoje na cobra?” Ia-se à cobra e perdia; perdendo, explicava a si mesmo o fato com os melhores raciocínios deste mundo, e a razão fortalecia a fé.

Em vez de reforma da repartição veio um aumento de vencimentos, cerca de sessenta mil-réis mensais. Camilo resolveu batizar o filho, e escolheu para padrinho nada menos que o próprio sujeito que lhe vendia os bichos, o banqueiro certo. Não havia entre eles relações de família; parece até que o homem era um solteirão sem parentes. O convite era tão inopinado, que quase o fez rir, mas viu a sinceridade do moço, e achou tão honrosa a escolha que aceitou com prazer.

— Não é negócio de casaca?

— Qual, casaca! Coisa modesta.

— Nem carro?

— Carro...

— Para que carro?