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Na confissão dos Souvenirs é já o sábio que fala em relação aos estreantes:

Um poeta, por exemplo, apresenta-nos os seus versos. É preciso dizer que são admiráveis; o contrário equivale a dizer-lhe que não valem nada, e fazer sangrenta injúria a um homem cuja intenção é fazer-nos uma fineza.

Um clássico da nossa língua, Sá de Miranda, põe na boca de um personagem de uma das suas comédias alguma coisa que resume toda essa arte e polidez aí recomendadas:

A mor ciência que no mundo há assim é saber conversar com os homens; bom rosto, bom barrete, boas palavras não custam nada, e valem muito... Vou-me a comer.

"Vou-me a comer", aplicado a Renan, é a glória que lhe ficou das suas admiráveis páginas de escritor ünico. A glória de Henriqueta seria a contemplação daquela, o gozo íntimo de uma adoração e de um amor, que a vida achou realmente excessivos, tanto que a despegou de si, com um derradeiro e terrível sofrimento, talvez mais inútil que os outros.

Nota*- É mais interessante citar uma coincidência. Na carta que Renan escreveu ao colega Cognat, datada de 12 de novembro de 1845, e na que escreveu à irmã em data de 13 de outubro, a narração da chegada e saída do seminário de Saint-Sulpice é feita com as mesmas palavras, pouco mais ou menos (Conf. Lettres Intimes; e Souvenirs, apêndice). É mais que coincidência, é repetição de textos. O sentimento final é expresso em ambos os lugares com este mesmo suspiro: Que de liens, mon ami, (ma bonne amie) rompus en quelques heures!