seu dinheiro, que eu tinha vinte anos — o primeiro dos direitos do homem, anterior aos tios e outras convenções sociais.
A imaginação, madre amiga, apontou-me logo uma infinidade de recursos, que bastavam a dispensar os magros cobres de um velho avarento; mas, passada essa primeira impressão, e relida a carta, entrei a ver que a solução era mais árdua do que parecia. Os recursos podiam ser bons e até certos; mas eu estava tão afeito a ir à Rua da Quitanda receber a pensão mensal e a gastá-la em dobro, que mal podia adotar outro sistema.
Foi neste ponto que abri a carta do amigo Norberto e corri à casa dele. Já sabem o que lhe disse; viram que ele meteu as unhas na cabeça, desesperado. Saibam agora que, depois do gesto, disse com olhar sombrio que esperava de mim outros conselhos.
— Quais?
Não me respondeu.
— Que compres uma pistola ou uma gazua? algum narcótico?
— Para que estás caçoando comigo?
— Para fazer-te homem.
Norberto deu de ombros, com um laivozinho de escárnio ao canto da boca. Que homem? Que era ser homem, senão amar a mais divina criatura do mundo e morrer por ela?
A baronesa de Magalhães, causa daquela demência,