CANTO I
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Aquelle que estas phrases proferia
Era um cultor da Arcádia, condemnado
A ver as gratas flores da poesia,
Que desde os tenros annos tinha amado,
Em pó desfeitas pela mão profana
Dos barbaros da quadra em que vivia.
A pobre musa alegre e descuidada,
Para as delicias do prazer nascida,
Vendo aquella expressão amargurada,
Ouvindo aquella voz cava e sentida,
Disse adeus ao cantor desventurado,
Fugindo commovida e assustada.
Veloz como o adejar do pensamento,
E anciosa de prazer, no mundo entrara.
Um acaso feliz, nesse momento,
Fez que em frente da estancia onde parara
Sentisse num palacio os sons festivos
D'um baile, que ness'hora começara.