Página:Parnaso mariano (1890).djvu/237

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na Travessa do Convento das Bernardas, em 30 de dezembro de 1873, inauguração do retrato d’elle pelo Lupi na parede do meu salão. Elle estava sentado junto ao movel sobre o qual assentava aquella enorme tela, esplendida obra, talvez a melhor producção de Lupi.

«Dos versos em si, que lhe posso dizer? Compol-os meu Pae em Ponta Delgada; isso é que eu sei. Quem não ouviu meu Pae recitar nessa tal noite que lhe digo, não ouviu uma das coisas mais bellas e artisticas do mundo: elle já muito quebrado, com a sua nobre apparencia, as suas barbas brancas crescidas, e a sua admiravel voz como que já velada de melancholia senil, mas ainda rica de meios tons e gradações finissimas. Toda a assembleia (que era numerosa) escutando num silencio respeitoso. Foi assombroso! — me dizia um amigo — nunca tive uma impressão artistica d’esta ordem.»

Involveu-se por vezes o nosso poeta em polemicas acaloradas, que sustentou por meio da penna já com summidades litterarias, já com os adversarios do seu methodo de leitura, já com a eschola denominada coimbră, etc. Quando se publicou o Eurico de Alexandre Herculano, Castilho impugnou-o com severidade por insinuar o suicidio como desenlace preferivel para as contrariedades da vida e miserias d’este nosso mundo sublunar. Contra Silvestre Pinheiro Ferreira combateu porfiada e desenvolvidamente a proposito d’um artigo sobre a Oração do christão, que aquelle publicara no jornal conimbricense o Christianismo. Esta discussão tornou-se famosa, porque Silvestre Pinheiro appellou para Roma e obteve provimento no seu aggravo. Todos os escriptos de Castilho revelam de modo invariavel, além do merito litterario, muito amor pela patria, zelo pela religião e entranhado desvelo pelo ensino do povo. Todos os que hoje escrevem são mais ou menos discipulos seus, e a sua memoria veneranda durará sempre pura em quanto se fallar e ouvir a lingua portugueza.

 

Antonio Ferreira (XLII). Com o nome de Francisco de Sá Miranda anda enlaçado o de Antonio Ferreira, por serem os dois primeiros consules da republica classico-litteraria portugueza. Ambos eminentes no ingenho e fecundos na erudição, são ainda modelos de gosto e exemplares para estudo. Foi Miranda mais philosopho, Ferreira