de ſe auiar, ſe ajuntaraõ todos, & lhe
foraõ requerer que o mandaſſe chamar,
ſenão q̃ proteſtauaõ de ſe irem
queixar a el Rey da ſem razão que
lhes fazia em ſer cauſa de ſe lhes yr a
fazenda que tinhão no porto, em q̃
eſperauão fazer ſeus empregos. O
Nautarel, com todos os mais Capiſondos
da alfandega, temẽdo ſerem
por iſſo caſtigados, & ſuſpenſos de
ſeus officios, concederaõ em ſeu requerimento,
porem com condiçaõ q̃
ja q̃ nòs não queriamos pagar mais
q̃ dez por cento, pagaſſem elles mais
cinco, paraque el Rey ficaſſe cõ meyos
direitos, de que todos foraõ contentes.
E tomando logo a mandar o
mercador que tinhaõ preſo com hũa
carta de muytos comprimentos, em
q̃ relatauão todo o proceſſo do concerto
que tinhão feito, Antonio de
Faria lhe reſpõdeo, que por nenhum
modo auia ja de tornar a ſurgir no
porto, porque não tinha monçaõ para
andar fazendo tantas detenças, nẽ
tantos pouſos, mas que ſe lhe quiſeſſem
comprar a fazenda toda por junto,
trazendo logo prata quanta baſtaſſe
para iſſo, que lha venderia, & ſe
não que de outra maneyra não queria
nenhum concerto com elles, porq̃
eſtaua muyto eſcandalizado do pouco
reſpeito que o Nautarel lhe tiuera,
em lhe deſprezar os ſeus recados,
& que ſe diſto foſſem contentes, lhe
reſpondeſſem dentro de hũa hora, q̃
sò para iſſo lhe daua de eſpaco, & ſe
não que ſe iria caminho de Ainão,
onde venderia a fazenda muyto milhor
que aly. Elles vendo hũa tal determinaçaõ,
& tẽdoa por verdadeyra,
arreceando que ſe lhe foſſe dentre
as mãos aquella occaſião que entaõ
tinhaõ de ſe poderem auiar para ſe
tornarem para ſuas terras, vieraõ logo
em cinco barcaças muyto grãdes
com muytos caixoẽs cheyos de prata,
& grande ſoma de ſacos para leuarem
a pimenta. E chegados ao jũco
onde Antonio de Faria eſtaua cõ
ſua bandeyra de Capitaõ mór, foraõ
delle muyto bem recebidos, & lhe
reſumirão de nouo tudo o q̃ tinhaõ
paſſado co Naurarel da cidade, queixandoſelhe
muyto da ſua má condição,
& dalgũas ſem razoẽs que lhes
tinha feitas, porem ja q̃ o elles tinhaõ
pacificado com lhe darẽ quinze por
cento, dos quais elles querião pagar
os cinco, lhe pedião que quiſeſſe elle
pagar os dez que prometera, porque
doutra maneyra lhe naõ poderiaõ
comprar ſua fazenda. A que Antonio
de Faria reſpondeo que era contente,
mais por amor delles, que porque
iſſo lhe vieſſe bem, o que elles
todos lhe agradeceraõ muyto, & aſsi
ficou tudo concertado, & com muyta
paz & quietação. E dandoſe muyta
preſſa a deſcarga da fazenda, em
ſos tres dias foy peſada, & enfacada,
& entregue a ſeus donos, com as cõtas
aueriguadas, & recebida a prata, a
qual veyo a ſomar cẽto & trinta mil
taeis, a razão de ſeis toſtoẽs o tael, como
ja diſſe algũas vezes. E cõ quanto
iſto ſe fez com toda a breuidade poſſiuel,
nem iſſo baſtou para que antes
de ſe acabar deixaſſe de vir a noua
do que tinhamos feito ao ladraõ no