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PETER PAN

— Ja sei, gritou Emilia. Beijo para ele significava presente, um presente qualquer. Que bobissimo !

— Wendy, continuou dona Benta, recebeu o botão e ficou de olhos postos em Peter Pan. Subito, perguntou :

— "Que idade você tem, Peter Pan ?

— "Não sei. Só sei que sou bastante criança. Fugi de casa no mesmo dia em que nasci.

— "No mesmo dia em que nasceu ? Que ideia ! E por que, meu caro ?

— "Porque ouvi uma conversa entre meu pai e minha mãe sobre o que eu havia de ser quando crescesse. Ora, eu não queria crescer. Não queria, nem quero nunca virar homem grande, de bigodeira na cara, feito tatorana. Muito melhor ser sempre menino, não acha ? Por isso fugi e fui viver com as fadas.

Wendy quasi perdeu a fala de tanto gosto, ao saber que estava diante dum menino conhecedor de fadas. Ela ouvia sua mãe contar historias de fadas, mas não havia nunca falado com alguem que as conhecesse pessoalmente.

— "E' verdade isso, Peter ? Ha mesmo fadas ou você está a mangar comigo?

— "Verdade, sim, Wendy. Não muitas, mas ha.

— "E de onde vêm elas ?

— "Então não sabe, Wendy ? Parece incrivel ! Não ha quem não saiba disso...

— "Pois eu não sei. Conte.

— "Foi assim. A primeira fada apareceu no mundo no dia em que a primeira criança nascida deu a primeira risadinha.

— "Oh, nesse caso deve haver uma fada para cada criança do mundo, porque todas as crianças dão uma primeira risadinha, observou Wendy.

— "Assim devia ser, confirmou Peter Pan, se as fadas não fossem as criaturas mais faceis de morrer que existem. Morrem como passarinhos. Cada vez, por exem-