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PETER PAN

— E' a lua, disse tia Nastacia. Já reparei que em tempo de lua cheia Emilia dá para espirrar bobagem que nem torneira aberta que a gente quer tapar com a mão.

Emilia botou-lhe a lingua e dona Benta prosseguiu :

— Mas vamos ao caso. Vocês me interrompem tanto que a historia não pode chegar ao fim. Peter Pan contou a Wendy como as fadas nascem, e ao falar em fada lembrou-se da bola de fogo que havia entrado na gaveta. Era uma fada, essa bolinha, e muito sua amiga. Uma fada que fazia tudo que as outras fadas fazem, menos falar. Sua fala não passava daquele tlin, tlin, tlin de campainha de prata.

Assim que Peter Pan se lembrou da bola de fogo, ou Sininho, como era o seu nome, um tlin, tlin, tlin zangado se fez ouvir dentro da gaveta.

— "A pobre! exclamou Peter Pan. Deve estar furiosa comigo por ter-me distraido com você e esquecido dela. Sininho é ciumentissima.

De fato. Sininho saiu da gaveta furiosa. Esvoaçou pelo quarto por uns instantes, indo afinal esconder-se num canto, emburrada. Eram ciumes de Wendy. Mas a menina não deu nenhuma importancia áqueles maus modos; continuou a conversar com Peter Pan como se não houvesse visto nada.

— "Vamos, Peter Pan ! disse ela. Conte-me mais alguma coisa da sua vida. Conte onde mora, mas de verdade.

— "Moro com os meninos perdidos.