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PETER PAN

procura e os deteve em Miguel, que tinha na cabeça a cartola de seu pai.

— Otimo! gritou Peter Pan tomando a cartola. Melhor chaminé que esta não é possivel — e arrumou-a em cima do této.

E tudo mais foi assim. O material de construção mais empregado era o "fazimento de conta". Não tem fechadura na porta? Faz de conta que esta fivela é fechadura. Não tem cadeira? Faz de conta que esta pedra é cadeira.

Wendy não precisou entrar na casinha, porque a casinha havia sido construida em redor dela — e foi a primeira vez no mundo que semelhante coisa aconteceu.

Pronta a casa com a dona dentro, Peter Pan veio e bateu á porta — tóc, tóc, tóc. Wendy surgiu á janela e perguntou quem era.

— "São os meninos perdidos que desejam saber se a menina está disposta a ser a mãezinha deles. Nunca tiveram mãe e querem experimentar se é bom.

— "Com muito gosto, responden Wendy. Serei mãe de todos, contarei historias á noite, remendarei as roupas de dia, agradarei aos que chorarem e ralharei com os que fizerem coisas inconvenientes — tudo igualzinho como mamãe faz lá em casa. Mas só serei mãe se Peter Pan quiser ser o pai.

Todos bateram palmas, numa grande alegria. Iam ter mãe, afinal. Iam ter quem lhes contasse historias — que maravilha!

— "Historia! Historia! exclamaram. Para começar, conte já uma linda historia — e os meninos foram entrando para a casinha, em atropelo. Era incrivel que lá coubessem todos, mas couberam. Para isso foi preciso que se arrumassem com a habilidade e o jeito com que as sardinhas se arrumam dentro das latas.

Logo que todos se acomodaram, Wendy começou assim: "Era uma vez uma pobre menina chamada Cin-