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PETER PAN

têm acontecido no mar aos marinheiros que ouviram tais cantos.

— E' verdade, vóvó, que os marinheiros antigamente entupiam os ouvidos com chumaços de algodão sempre que viam uma sereia? perguntou Pedrinho.

— Deve ser. Não fazendo isso, esse canto maravilhoso deixa os marinheiros embriagados e eles erram todas as manobras do navio, puxam esta corda em vez daquela, botam garrafas de vinho no anzol em vez de iscas — atrapalham tudo, tudo. Resultado: o navio perde o rumo, dá com o bico numa pedra e afunda.

Os meninos perdidos tinham muita vontade de apanhar uma sereia viva, coisa quasi impossivel por serem espertas demais. Não ha lambari arisco que tenha a ligeireza duma sereia. Eles já haviam tentado varias vezes e agora iam tentar novamente.

— Como?

— O meio era um só — meterem-se n'agua de jeito que a sereia não os visse e fecharem o cerco. Assim fizeram. Meteram-se todos n'agua e foram nadando sem fazer o menor barulhinho, até que...

— Pegaram? indagou Narizinho, ansiosa.

— Pegaram, nada! A sereia os percebeu e soltou um grito agudo: Mortais! mergulhando em seguida.

Ficaram todos desapontadissimos e Miguel chegou a fazer cara de choro. Se não chorou de verdade foi porque Bicudo avistou outra sereia num rochedo mais adiante.

— "Lá está uma sereia-menina, das faceis de pegar! cochichou ele, apontando. Temos que ir com muitas cautelas.