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PETER PAN

agilidade do que seis Ganchos. Essa desigualdade tornava as forcas bem equilibradas.

Lutaram, lutaram muito tempo, ora na praia, ora dentro d'agua, e por fim sobre o rochedo mais proximo. Era luta a unhadas, a pontapés, a socos na cara, a dentadas e cabeçadas. Por fim o pirata, já de lingua de fóra de tão cansado, compreendeu que era impossivel vencer o terrivel menino, e sem a menor vergonha fugiu. Saltou para o bote e fugiu ! Era a segunda vez que Peter Pan o derrotava em luta corpo a corpo. Ficou todo arranhado, mas vitorioso e glorioso.

— "Viva Peter Pan! gritou uma voz no rochedo. O menino voltou-se. Era Wendy. Em vez de acompanhar os outros, que tinham corrido para longe dali, ela havia ficado para acompanhar de perto a luta.

— "Wendy, Wendy! gritou ele aflito. Sabe que está correndo o maior dos perigos? A maré já começa a crescer, e como você não escora nadar até á praia, corre o perigo de morrer afogada.

A situação era sem duvida das mais sérias. Peter Pan franziu de novo a testa. Precisava descobrir um meio de salvar a querida mãezinha dos meninos perdidos antes que a maré subisse a ponto de engulir o rochedo com ela e tudo. Bote não havia. Carrega-la nas costas era perigoso, porque estava tão cansado da luta que mal podia consigo. Que fazer? Olhou para a direita, olhou para a esquerda, olhou para baixo, olhou para cima. Acertou em olhar para cima. Viu um enorme papagaio de papel que voava lá bem alto, com um rubo de tira de pano que tocava a superficie das aguas.

Teve uma ideia. Agarrar o rabo do papagaio e amarra-lo á cintura da menina. Deu jeito e assim fez. Amarrou o rabo do papagaio á cintura de Wendy e esperou. Instantes depois o vento cresceu; o papagaio subiu mais alto, esticou o rabo e Wendy lá se foi pelos ares...