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PETER PAN
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— "Covardes! berrou o Capitão Gancho. Têm medo? Pois vou eu mesmo, para mostrar o que é coragem, e tomando uma lanterna dirigiu-se para a misteriosa cabina.

Entrou, mas incontinenti voltou atrás, dum salto.

— "Uma coisa assoprou e apagou a minha lanterna! Deve ser uma abantesma, ou qualquer monstro dessa laia. O melhor é lançarmos os prisioneiros contra ela. Serão devorados e nós economizaremos as nossas pedras de afogar. Vamos! Empurrem a meninada para a cabina da abantesma!

Era justamente o que os meninos queriam; mas não deram sinal disso, bem ao contrario resistiram, fingindo grande medo, e só entraram na cabina á força.

Os piratas são em regra muito supersticiosos. Acreditam em quanta bobagem ha. Uma das suas crendices é que mulher traz desgraça para navio. Por isso juntaram-se em conferencia para resolver o que fariam de Wendy. Enquanto conferencia vam na pôpa, Peter Pan saiu da cabina sem ser visto, foi ao mastro, soltou a menina e colocou-se em seu lugar, bem disfarçado com o chalinho ao pescoço.

Depois de muito discutirem, os piratas resolveram lançar ao mar a mulherzinha que estava atrapalhando a vida de bordo.

"Muito bem! exclamou o Capitão Gancho, fechando a disenssão. Assim seja. Lancem-na ao mar! Acabem logo com a vida dessa criatura que nos está trazendo desgraças.

Varios piratas dirigiram-se para o mastro a fim de cumprir a ordem do chefe. Parando diante daquele vultinho meio embuçado no chale disseram com voz de escarneo:

— "Chegou sua hora, menina. Nada no mundo poderá salva-la.