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PETER PAN

dade deles — e um a um foram sendo postos fóra de combate, ou forçados a jogarem-se ao mar. Ao cabo de alguns minutos só ficou em campo o Capitão Gancho, sempre atracado com Peter Pan.

Foi a luta mais bonita que ainda se viu no mundo. Peter Pan parecia um demoninho. Saltava como gato selvagem e dansava na frente do pirata, fazendo-o errar todos os botes da sua mão de gancho. E enquanto isso, tome lá um pontapé na barriga, tome lá uma cotucada no nariz, tome lá mais um galo na testa!

A agilidade de Peter Pan fazia que ele não perdesse um só golpe e evitasse todos os golpes arremessados pelo pirata. O Capitão Gancho estava já de lingua de fóra, como cachorro cansado. Suava em bicas, um suor muito fedorento. Tinha mais arranhões pelo corpo e galos pela testa do que cabelos na caheça. Em certo momento deteve-se, apavorado, e gritou:

— "Será que estou lutando contra um demonio? Peter Pan, diga-me, quem é você?

Peter Pan, como um galinho novo que sacode as asas ao nascer do sol, respondeu com um grito de atroar os ares:

— "Eu sou a Juventude ! Sou a alegria da vida ! Sou eterno e invencivel !

E zás, zás, zás, apertou o velho capitão numa tal roda viva de golpes que ele foi recuando, recuando, recuando até que chegou na beiradinha do navio e...

Tchibum ! Caiu n'agua, completou Emilia.

— Não. Caiu mas foi bem dentro da goela do crocodilo. O paciente animal tinha ouvido o barulho da luta e aproximara-se de mansinho, ficando rente ao navio, de boca aberta, á espera do resto da mão. E desse modo devorou para sempre o famoso chefe de piratas, com gancho e tudo...