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PETER PAN

Tia Nastacia acendeu o lampião e, com grande surpresa, viu que sua sombra se projeta va inteirinha na parede, como antigamente.

Todos arregalaram os olhos.

— Vejam que sherlock das duzias é o tal senhor visconde ! gritou Emilia, dando uma risada ironica. Acusou-me de ter furtado uma coisa que não foi furtada! A sombra de tia Nastacia está direitinha como sempre foi.

Era a pura verdade. Todos se aproximaram da parede para examinar o estranho caso. Viram que de fato a sombra fora cortada em numerosos pedaços, mas que havia sido remendada de novo. As costuras estavam visiveis.

— Bom, disse dona Benta. Desde que a sombra voltou, não vale a pena insistirmos nisso, mas Emilia que não repita a brincadeira. A sombra grudou muito bem. Mas se não grudasse? Se a pobre tia Nastacia ficasse aleijada para toda a vida? Não e não. Basta de tais reinações. Com sombra a gente não brinca.

Em seguida tomou assento em sua cadeira de pernas serradas e anunciou o fim da historia de Peter Pan e Wendy.

— Depois da derrota do capitão Gancho, disse ela, os outros piratas levaram a breca, isto é, morreram afogados. Só se salvaram dois, um de nome Smee e outro de nome Starkey.

Smee era um pirata irlandês, não tão ruim como os outros; conseguiu nadar até a praia, salvou-se e acabou marinheiro, muito bem comportado num navio de guerra inglês.

— E Starkey?

— Starkey nunca havia derramado sangue humano, apesar de ser um grande patife. A sorte o poupou. Foi