Entrançados co’a palma do martyrio;
Vive, ó poeta, e canta para a gloria.
Porém — respeito a essa dôr sublime —
Sello gravado pela mão divina
Sobre a fronte do genio,
Não forão para os risos destinados
Esses labios severos, d’onde emana
A linguagem dos céos em igneos versos;
Longe d’elle a vã turba dos prazeres,
Longe os do mundo passageiros gozos,
Breves flôres de um dia, que fenecem
Da sorte ao menor sopro.
Não, — não foi das paixões o bafo ardente
Que os ledos risos lhe crestou nos labios;
A tormenta da vida ao longe passa,
E não ousa turbar com seus rugidos
A paz d’essa alma angelica e serena,
Cujos tão castos ideaes affectos
Só pelos céos adejão.
Alentado sómente da esperança
Contempla resignado
As sombras melancolicas, qu’enlutâo
O horizonte da vida; — mas vê n’ellas
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