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Página:Poesias (Bernardo Guimarães, 1865).djvu/114

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Sobre as azas do extase divino,
Deixai-a, que adejando pelo empyrio
Vá aquecer-se ao seio do infinito,
E ao céo roubar segredos de harmonia,
      Que sonorosos troem
D’harpa sublime nas mellifluas cordas.

      Mas eil-a já quebrada, —
Eil-a sem voz suspensa sobre um tumulo,
Essa harpa mysteriosa, qu’inda ha pouco
Nos embalava ao som de endeixas tristes
Repassadas de amor e de saudade.
Ninguem lhe ouvirá mais um só harpejo,
      Que a ferrea mão da morte
Pousou, sobre ella, e lhe abafou p’ra sempre
      A voz das aureas cordas.
Porém, ó Dutra, emquanto lá no elysio
Saciando tua alma nas enchentes
Do amor e da belleza, entre os effluvios
      De perennaes delicias,
E unido ao côro dos celestes bardos,
      O fogo teu derramas
Aos pés de Jehovah em gratos hymnos,
A gloria tua, teus eternos cantos,