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Eu amo essas lembranças; deixão n’alma
Um que de vago e triste, que mitiga
    Da vida os amargores.

Assim de um bello dia, que esvaío-se,
Longo tempo nas margens do occidente
    Repousa a luz saudosa.

Eu amo essas lembranças; são grinaldas
Que o prazer desfolhou, murchas reliquias
    De esplendido festim;

Tristes flôres sem viço! — mas um resto
Inda conservão do suave aroma
    Que outr’ora enfeitiçou-nos.

Quando o presente corre arido e triste,
E no céo do porvir pairão sinistras
    As nuvens da incerteza,

Só no passado doce abrigo achamos
E nos apraz fitar saudosos olhos
    Na senda decorrida;