Dizem que a vida é breve; — euvejo longos
Por trás de mim os annos já volvidos
Estereis e tristonhos se estenderem
Em nevoentos longes escondidos.
Entretanto nas sendas da existencia
Apenas sete lustros hei transposto,
Nem da velhice ainda a mão pesada
Curvou-me a fronte, nem sulcou-me o rosto.
E n’esses annos, que lá vão saudosos,
Quantas vidas de amor tenho vivido;
Que varios fados me hão enchido o tempo,
Quanto hei gozado, e quanto mais soffrido?!..
Pelas devezas tristes do passado
Como vão meus caminhos alastrados
Dos destroços de minhas esperanças,
De mil laços de amor despedaçados.
Dizem que a vida é breve! — é para aquelles
Que vão singrando em mares de bonança,
Ou resvalando em floridas veredas
Embalados nos braços da esperança.
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