Onde vão demandar nova guarida.......
Tudo é cinza e ruina: — adeos, ó sombra,
Adeos, murmurio, que embalou meus sonhos,
Adeos, sonoro fremito das auras,
Susurros, queixas, suspirosos échos,
Da solidão mysterioso encanto!
Adeos! — Em vão a pomba esvoaçando
Procura um ramo em que fabrique o ninho;
Em vão suspira o viajor cansado
Por uma sombra, onde repouse os membros
Repassados do ardor do sol a pino!
Tudo é cinza e ruina, — tudo é morto!!
E tu, ó musa, que amas o deserto,
E das caladas sombras o mysterio,
Que folgas de embalar-te aos sons aereos
D’almas canções, que a solidão murmura,
Que amas a creação, qual Deos formou-a,
— Sublime e bella — vem sentar-te, ó musa,
Sobre estas ruinas, vem chorar sobre ellas.
Chora com a avezinha, a quem roubárão
O ninho seu querido, e com teus cantos
Procura adormecer o ferreo braço
Página:Poesias (Bernardo Guimarães, 1865).djvu/75
Aspeto
— 67 —