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Página:Poesias eroticas, burlescas e satyricas.djvu/14

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RIBEIRADA
VI

De Polyophemo o nervo dilatado,
Que intentou escachar a Galathéa,
Pelo mundo não deu tão grande brado
Como a porra do preto negra e feia:
Da Cotovia o bando gallicado
Com respeito mil vezes o nomeia,
E ao soberbo estardalho do selvagem
As putas todas rendem vassallagem.

VII

O longo e denso vau da noite escura
Das estrellas bordado já se via;
E em rota cama a horrenda creatura
Os tenebrosos membros estendia:
Do caralho a grandissima estatura
C'os lençoes encubrir-se não podia,
E a cabeça fodaz de fóra pondo
Fazia sobre o chão medonho estrondo.

VIII

Os ladros, que fieis o acompanhavam,
A triste colhoada a cada instante
Com agudos ferrões lhe traspassavam,
Atormentando a besta fornicante:
Na duríssima pelle se entranhavam,
Supposto que com garra penetrante
O negro dos colhões a muitos saca,
E o castigo lhes dá na fera unhaca.