165
ELEGIA
Á MORTE DE UMA FAMOSA ALCOVITEIRA
Genio só dado a sordidas torpezas,
Que usas comprar na immunda Cotovia
Chochos agrados de venaes bellezas:
Solto o cabello, as carnes arripia
Na morte d’esta illustre recoveira,
E inspira-me tristissima elegia.
Honrada, e a mais sabida alcoviteira,
A ti consagro este cypreste umbroso,
Com que te enramo a esqualida caveira;
Em quanto pelo rio pantanoso
A ouvir te leva o pallido Charonte
Severas leis de Minos rigoroso.
Alçando para o ar a crespa fronte
Os ouvidos estende ás vozes minhas,
Quando no mundo os teus louvores conte.
Vós, moças do Bairro-Alto e Fontainhas,
Vós testemunhas sois da grande falta
Que chorando contais entre as visinhas.