A quem lamenta inuteis suas preces,
Por mais que em giro ao throno elle as espalhe.
Teme o sabio que um Deus irado o fira,
E penitente vai, supplica a venia
Ao dispenseiro seu, nobre e sagrado;
Que ora as graças lhe abre, ora as ferrolha;
As graças, que co′as leis da natureza
Se ligam sempre, eternas, necessarias,
E só quando a vontade as torna em crimes
Cruel desunião n′ellas fomenta;
Por vel-a rebellada lhe fulmina
Prisões suaves no jejum, cilicio.
Que n′um geral concelho só lhe arbitra:
Humilde, pede resarcir-se a benção;
Soberba, porque quer desenfadar-se
No jugo que remata nas delicias,
Recáe n′outro maior, que a morte vende.
E inda dizem que Deus é vingativo.
Se com razão sacode o raio ardente?...
Antes te louvarei, porque não déste
O justo premio a muitos, que arrojando
Contra si tremendissima sentença
Julgam pela grandeza propria o crime,
E não querem fazer seu peito escravo
No castigo, que affirmam ser-lhes duro!
Será eterna a pena n′esses peitos,