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notas

Onde só pode achar a recompensa?
Para que o feio vicio é condemnado,
Que os sentidos encanta e lisongéa?
Se da nossa existencia é o sepulchro
O novissimo termo, é impiedade
Contrastar o appetite, e devem todos
Ás ávidas paixões largar as redeas,
Por mais felicidade não se espera.

Réo de taes sentimentos, e dos crimes
Que são d′elles precisas consequencias,
Atreves-te a chamar sonho, e chimera
Esse logar terrivel, que desejas
Não existisse para teu flagello!
Dogma fatal, mas dogma necessario,
Cuja existência só negar se atreve
Quem pondo-se ao nivel dos mesmos brutos
A razão, como tu, tem degradado!
Dize, infeliz: se o homem virtuoso
Vês sem estimação, sem recompensa,
Luctando com a desgraça, em dura guerra
Com as suas paixões continuamente,
Se o vês dos orgulhosos opprimido,
Da miseria arrastando as vis cadéas,
E os flagellos soffrendo da injustiça,
Dirás que o justo Deus adormecido
Lhe não reserva digna recompensa
De o chamar no seu seio, repartindo
Com elle os dons da doce eternidade?
Se o impio vês, pizando impunemente
As sanctas leis aos pés, e da ventura