Que são retratos os mais vivos d′alma,
N′elles descobrirás quanto é diverso
Aquelie original da negra cópia
Que desenhou a tua mão indigna
Por fascinar os olhos da innocencia.
Lê nos mesmos pagãos os elogios
Que soube merecer-lhe o seu caracter.
Já que da santa Egreja os testemunhos
Indigno desertor assim desprezas,
Para enganar a crédula innocencia,
Que seduzir pretendes insensato,
Confundes o amor, que Deus ordena,
Com aquella paixão, aquella insania,
Que arrasta os homes ao nivel dos brutos?
Que idéa, dize, tens da Divindade?
Confessas que é delicto aos similhantes
Traçar damnos crueis, injustos males,
E pretendes sem culpa assassinar-lhe
A virtude, roubando-lhe a innocencia?
Indigno, inconsequente, mentecapto,
Das luzes da razão abandonado.
Que dogmatizar queres vãos delirios
Uns a outros oppostos, e que offendem
Natureza, Razão, e Divindade;
Degradas o teu ser, não consentindo
Que haja além do sepulchro Eternidade.
Aviltas a Razão, suppondo-a digna
De approvar teu delirio extravagante;
A Divindade offendes, quando a pintas
Com attributos, que lhe são contrarios.
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