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Página:Poesias eroticas, burlescas e satyricas.djvu/56

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Nem rico Midas suas azas prende;
Oh tu cerulea, cristallina Thetis,
Quando revolta não serás tão vaga?
Oh tu suberbo, furioso Noto,
Quando liberto não serás tão doudo?
São mais constantes de um carvalho altivo
As livres folhas, quando Bóreas sopra,
Tremulam menos nos extensos mares
Flamulas soltas, que menêa o vento.
Se tu, mancebo, por acaso agradas,
Vive seguro, em teu rival não cuides;
É velho amante, tu amante novo:
Pode mais do que amor a novidade;
De novo ardia por Helena Paris,
Por isso foi de Meneláo contrario.


VI


Mas é preciso que subtil e hardido
Primeiro excites a attenção de Tyrse.
Com gesto alegre teu amor exprime,
Falem teus olhos, todo o corpo fale;
Mudo lhe dize que te assombra, e pasmam
Do seu semblante a formosura, e a graça.
Ora de espanto se amorteça a face,
Ora se accenda com venereo fogo:
O mesmo effeito teus contrarios fazem,
Todos o orgulho mulheril incensam:
O forte sexo para si reserva
De Phebo os louros, de Mavorte as palmas.