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olinda a alzira
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Sem nada ouvir, nem vêr, apenas dando
Signaes de vida, de prazer morria.
Excepto o meu amante, em taes momentos
Longe da idéa tinha o mundo inteiro:
O mundo inteiro então forças não tinha
Para do meu amante desprender-me.
Debalde ante meus passos furibundo
Monstro espantoso vira: em vão lançára
Do aberto seio a terra ondas de fogo;
Em vão coriscos mil o céo vibrára;
Dos braços do amante em taes momentos
Nada, nada podia arrebatar-me.
Oh quem podera, Alzira, descrever-te
Que extasi divinal veio pôr termo
A taes instantes de suaves gostos!...
Isto pôde sentir-se, e não dizer-se...

Agora, e só agora me parece
Que começo a existir: reproduziu-se
Uma total mudança na minha alma.
O mundo para mim já tem encantos;
Sob outras côres vejo mil objectos,
Que a phantasia me pintam tristonhos:
Propicio Amor abriu-me os seus thesouros,
A Natureza seus thesouros me abre:
Tudo te devo, amiga; em todo o tempo
A teus doces conselhos serei grata:
Oxalá ditas tantas saboreies
Quantas por ti, queiida, eu propria góso!
Oxalá sintas com Alcino os gostos.
Que exp′rimento, de um amante ao lado!