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alzira a olinda

De amor colhestes attonita as primicias,
E provaste entre gostos e agonias
O que uma vez, não mais, pode provar-se;
Tens um amante; eu sou a tua amiga;
Elle te dá prazer, d′ella o confia:
Gasta os momentos, que gozar não podes,
Do goso em recordar puras delicias:
Nem todo o tempo a amor pode ser dado.
A mór ventura, que o mortal encontra,
Seja embora infeliz, ou desgraçado,
É lembrar-se que foi já venturoso;
E o não desesperar de sel-o ainda,
Um termo aos males seus põe muitas vezes.
Alzira foi do teu prazer motora,
A gratidão te obriga a dar-lhe a paga.
É nobre o meu int'resse, e não mesquinho;
Pago-me d′escutar as tuas ditas,
E cedendo a meus rogos falso pejo.
Saiba eu teus momentos deleitosos.

Mas vê que o sacrificio, que te peço,
Eu propria generosa abro primeiro:
Primeiro eu quero timidos receios
Calcar aos olhos teus; entra em mim mesma,
Vê como reina Amor dentro em minh′alma!
Como só elle faz meus gostos todos!
Chamem embora apathicos estóicos
Ardores sensuaes os que me inflammam:
Chamem-me torpe, chamem-me impudica;
Taes vilipendios valem o que eu góso:
Venha a rançosa, vã theologia