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Psalmo de mortós, que retumba ao longe,
Grito da eternidade!...

Pensamento infernal! Fugir covarde
Ante o destino iroso?
Lançar-me, envolto em maldicções celestes,
No abysmo tormentoso?
Nunca! Deus pôs-me aqui para apurar-me
Nas lagrymas da terra;
Guardarei minha estancia atribulada,
Com meu desejo em guerra.
O fiel guardador terá seu premio,
O seu repouso, emfim,
E atalaiar o sol de um dia extremo
Virá outro após mim.
Herdarei o morrer! Como é suave
Bençam de pae querido.
Será o despertar, ver meu cadaver,
Ver o grilhão partido.

Um consolo, entretanto, resta ainda
Ao pobre velador:
Deus lhe deixou, nas trévas da existencia,
Doce amizade e amor.
Tudo o mais é sepulchro branqueado