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Alta noite, na igreja solitaria
Entre os mortos, que, erectos sobre as campas,
Eram ha pouco um fumo que ondeiava
Pelas fisgas do vasto pavimento.
Olhei. Do erguido tecto o panno espesso
Rareava; rareava-me ante os olhos,
Como tenue cendal; mais tenue ainda,
Como o vapor de outono em quarto d’alva,
Que se libra no espaço antes que desça
A consolar as plantas conglobado
Em matutino orvalho. O firmamento
Era profundo e amplo. Involto em gloria,
Sobre vagas de nuvens, rodeiado
Das legiões do céu, o Ancião dos dias,
O Sancto, o Deus descia. Ao summo aceno
Parava o tempo, a immensidade, a vida
Dos mundos a escutar. Era esta a hora
Do julgamento desses que se alçavam
Á voz de cima sobre as sepulturas?


XI.


Era ainda a visão, — Do templo em meio
Do anjo da morte a espada flammejante
Crepitando bateu. Bem como insectos,